Como Preencher o Currículo Lattes



SINOPSE:

O Currículo Lattes é uma das poucas invenções brasileiras, apesar de não ser única. O glorioso César Lattes é homenageado. Porém, apesar de sua utilidade, uso generalizado nos meios acadêmicos, a maioria absoluta não sabe preencher o Currículo Lattes. Eis que, heroicamente, aparece César Uivos, lançando esse manual digital, que nada tem de manual e nem de digital, sobre como preencher o Lattes. Cerca de 90% da população não preencheu ainda seu Lattes. Isso mostra a urgência desse lançamento. Claro que 90% não tem nada para colocar no Lattes, mas se tivessem, não saberiam colocar! Uivos vem para ajudar esses 90% e ainda os 10% que tem coisas para colocar no Lattes, embora 99% dessas coisas sejam irrelevantes e 0,5% seja repetição. Desses 10%, 90% não sabe preencher o Lattes e o livro manual digital, explica como fazê-lo. Uivos é muito didático. Ele ensina em poucos passos como preencher o Lattes. Antes ele mostra a utilidade desse sistema: nenhuma que já não estava no antigo currículo vitae. A diferença, explica ele, é que o lattes é disponibilizado na plataforma lattes e aí todo mundo pode bisbilhotar a vida acadêmica (ou intelectual, profissional) de todo mundo! Quer falar mal do colega de trabalho? Fácil, abre o lattes dele! Aí é só botar defeito e defeito nem precisa de botar, pois já está lá. Se não tiver defeito, é só inventar! Se publicou pouco, diga que é improdutivo! Se publicou muito, diga que é produtivista! Se não tem doutorado, diga que é "mal formado", se tem pós-doutorado, diga que é um "papa-diplomas"! Pronto. O Lattes tem a função, entre outras, de permitir as pessoas fofocarem sobre o trabalho alheio (ou a falta dele). O Lattes é o facebook dos intelectuais, onde ele posta tudo que faz, o almoço, a viagem, o turismo (quantos eventos você foi esse ano? Era na praia?). Só é mais carrancudo, como geralmente são os intelectuais. Só pode colocar uma selfie (a foto do dono do currículo), não pode colocar vídeo, não tem curtida. Bom, outra utilidade do Lattes é rankear e ganhar a competição, pela quantidade, geralmente. Qualidade é apenas quantitativa. Por exemplo, tem artigo Qualis A? Isso é quantidade. Mas seu colega tem dois, logo, dançou! Não tem? Que tristeza!! Arruma dinheiro e paga alguém para escrever logo esse artigo que vai agradar algum editor de alguma revista qualis A e pronto! Outra utilidade do Lattes, explica Uivos, é botar os professores e intelectuais para trabalhar. Os professores não fazem nada, "só dão aulas mesmo", e os intelectuais professores escrevem uns livrinhos (quando escrevem), uns artiguinhos (quando escrevem), fazem umas pesquisinhas (quando fazem), um eventinhos, umas extensãozinhas, umas orientaçõeszinhas, umas palestrinhas e mais um monte de coisinhas que não é bem "trabalho". Por isso, a gloriosa Capes e CNPq inventaram mais um trabalho para os professores e intelectuais: preencher o lattes. Uivos não apenas diz o que é o lattes, mas ensina a preenchê-lo. Ele explica que tem que colocar os dados pessoais (nome, cpf, local de trabalho, etc.), que é a parte mais fácil, embora alguns intelectuais não saibam seu próprio nome, muito menos fazem ideia do que é CPF, mas aí é problema do indivíduo e não de preenchimento. Uivos explica que tem que preencher a atuação profissional, as disciplinas que dá aula, as publicações, os eventos, as bancas, as orientações. Para artigos, coloque o ISSN ou DOI. Isso dói, admite Uivos, mas é preciso ficar procurando aqueles numerozinhos que nada significam e colocar lá! Se não tem ISSN ou DOI, não tem artigo. Publicou artigo e  não tem ISSN ou DOI da revista? Então é o mesmo que não publicar. Já reparou que Max Weber, Karl Marx, Emile Durkheim, Kant, Hegel, entre outros, não possuem Lattes! Pois é, as revistas que eles publicavam (e editavam, no caso de alguns) não tinham ISSN e DOI, então não valem nada! Não tinham nem Qualis C! Aliás, se eles fossem publicar nas revistas de hoje, não publicariam! Marx ia explicar o mais-valor e o parecerista ia colocar a observação: "cite a fonte"! Durkheim iria definir "fato social" e o parecerista: "isso não é empirico! E faltou citar a fonte!" É por isso que os clássicos não poderiam publicar, não teriam Lattes e Qualis, e seriam ilustres desconhecidos! Ele diz também que o Lattes foi feito por profissionais que entendem do trabalho acadêmico. Eles sabem que a maioria dos intelectuais não produzem o que publicam e por isso quando está lá para preencher os artigos, livros, etc. publicados, o autor do currículo deve preencher o seu próprio nome! A ideia é a de que, apesar do currículo ser dele, e ele estar preenchendo, mesmo assim precisa colocar o seu nome como autor. A razão disso, olha como tais profissionais são espertos, é para que se você não escreveu o que publicou, pode ficar na dúvida se coloca seu próprio nome como autor! Ou então, ao colocar, vai ficar com vergonha! Esses profissionais do Lattes são muito profissionais! Sabem de tudo! Pensam em tudo! Afinal, com a experiência deles, era de se esperar essa atenção especial para os plagiadores, ghostwriter, e coisas do gênero (não tem nada a ver com as feministas, que não preenchem o lattes por protesto, como bem coloca Uivos, pois ele é machista e misógino, já que o sobrenome é sempre na linha patrilinear). O Agnatício que o diga! Inclusive, dizem que os profissionais que produziram o Lattes não produziram o Lattes! Tanto é que não consta no Lattes deles! Uivos vai mais longe e ensina também que o Lattes traz a necessidade de repetição. Para cadastrar um novo artigo, deve colocar o nome do autor/editor e depois fazê-lo de novo. A ideia aqui também é genial! Já que os desocupados, digo, professores, não trabalham, então a repetição é para mantê-los ocupados, fazendo alguma coisa. Imagine se eles, por desocupação, saem de casa e ficam andando por aí, no meio da rua! Todo mundo vai saber que eles não trabalham e recebem por isso. Seria um rebuliço! E notem que o "sistema educacional" criou o Lattes, mas os professores tem também que preencher o Radoc (Relatório de Atividade Docente) em sua instituição! As mesmas informações devem ser repetidas! É preciso ocupar os desocupados! E por qual motivo vocês acham que algumas universidades pedem para um professor entregar seus documentos quanto é contratado e depois, em qualquer processo, tem que levar de novo! Acha que é irracionalidade? Não, é racionalidade burocrática para te controlar e te ocupar. Afinal, se não está ocupado, não está controlado! As dicas de preenchimento de Uivos são preciosas, inclusive quando fala para os professores fazerem o jogo do Lattes! O jogo do Lattes, explica Uivos, é a repetição. Então, se quer impressionar os outros, deixe seu Lattes mais gordo repetindo as coisas, colocando excesso de detalhes e outras dicas maravilhosas! Se eles gostam de repetição, ofereça repetição! Por exemplo, Uivos diz que se você escreveu uma tese, vai colocar no currículo na parte da finalização do curso. Depois, você transforma ela em dez artigos, que vai estar lá, na outra seção, de artigos, e depois reúne os artigos e publica um livro, que vai estar lá de novo, na seção livros, mas antes apresente os temas desses artigos em Congressos e eventos e vai colocar como resumo, resumo expandido, trabalho completo e comunicação oral! Ainda pode apresentar em mais de um evento, mas trocando o título (pelo menos isso, né!). Viu, é a mágica de multiplicar os pães, digo, os produtos. Uma coisa virou 43 coisas! Uma página de Lattes virou 10! César Uivos é um especialista, um admirador do currículo lattes, mas nem por isso é acrítico! Ele apresenta várias críticas aqueles que só sabem latir sobre o Lattes. A primeira crítica é sua forma carrancuda. A segunda é que não tem espaço para amizades e curtições. A terceira é que sua função está sendo desvirtuada, pois muitos estão usando o lattes para fazer contatos acadêmicos. A quarta é que o Lattes faz gastar muito tempo, o que gera ocupação, mas que é uma ocupação que não gera nada de novo, apenas repetição, e a ocupação deveria ser produtiva. A última crítica, é que o Currículo Lattes deveria ter outro nome, deveria ser Relatório Ampliado de Trabalhos Tristes, Enfadonhos e Sadomasoquistas. Assim, seria, com a sigla, Currículo Rattes. Essa obra é leitura imperdível para todos que possuem dificuldades de escrita e digitação (se não sabe escrever e digitar, não saberá preencher o Lattes), de preenchimento do Lattes, e também para os que têm falta de paciência, bem como para aqueles que adoram burocracia inútil, perder tempo, fofocar sobre a vida acadêmica alheia, repetir o que já fez, multiplicar a mesma coisa e, principalmente, ser tratado feito um idiota!



Detalhes do produto

Editora: EDITORA GOZHADORA
Título: Como Preencher o Currículo Lattes
Subtítulo: Um Manual Digital.
ISBN: 000-00-000-0000-0
Ano de edição: 2019
Número de páginas: 900
Formato do Livro: 14x21 cm


AUTOR:

César Uivos é um renomado intelectual brasileiro, cujo único livro publicado é este, e que o escreveu por não ter nada para colocar no Lattes e aí pensou em fazer esse livro. Ele demorou dez anos para aprender a preencher o Lattes, pois publicou um artigo durante esse tempo, e só tinha, antes disso, uma comunicação, apesar de ter que se aposentar, compulsoriamente este ano. Este livro é, segundo ele, o trabalho de sua vida, sua obra-prima. Ele está uivando de alegria.

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